Cinco poemas para celebrar 127 anos de Cora Coralina



                                                          Foto: Divulgação



Há 127 nascia a poetisa e contista brasileira Cora Coralina. A Goiana que apesar de transbordar doçura, delírio e beleza em suas palavras só foi reconhecida após seus 70 anos quando teve seu primeiro livro publicado.
Aproveitando a data fiz uma seleção de cinco de suas dezenas de poemas maravilhosos, para quem já é apaixonado e para quem esta prestes a se apaixonar pela peculiaridade de suas obras únicas.


       1-     Mulher da vida
           Mulher da Vida,
            Minha irmã.
           De todos os tempos.
           De todos os povos.
           De todas as latitudes.
           Ela vem do fundo imemorial das idades
           e carrega a carga pesada
           dos mais torpes sinônimos,
           apelidos e ápodos:
           Mulher da zona,
           Mulher da rua,
           Mulher perdida,
           Mulher à toa.
           Mulher da vida,
           Minha irmã.


         2-    Meu destino
         Nas palmas de tuas mãos
          leio as linhas da minha vida.
          Linhas cruzadas, sinuosas,
          interferindo no teu destino.
          Não te procurei, não me procurastes –
          íamos sozinhos por estradas diferentes.
          Indiferentes, cruzamos
          Passavas com o fardo da vida…
          Corri ao teu encontro.
          Sorri. Falamos.
          Esse dia foi marcado
          com a pedra branca
         da cabeça de um peixe.
         E, desde então, caminhamos
          juntos pela vida…

    3-      Aninha e suas pedras
          Não te deixes destruir…
            Ajuntando novas pedras
            e construindo novos poemas.
            Recria tua vida, sempre, sempre.
            Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
            Faz de tua vida mesquinha
            um poema.
            E viverás no coração dos jovens
            e na memória das gerações que hão de vir.
            Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
            Toma a tua parte.
            Vem a estas páginas
            e não entraves seu uso
             aos que têm sede.


        4-    Amigo
           Vamos conversar
          Como dois velhos que se encontraram
          no fim da caminhada.
          Foi o mesmo nosso marco de partida.
          Palmilhamos juntos a mesma estrada.
          Eu era moça.
          Sentia sem saber
          seu cheiro de terra,
          seu cheiro de mato,
          seu cheiro de pastagens.
         É que havia dentro de mim,
         no fundo obscuro de meu ser
         vivências e atavismo ancestrais:
         fazendas, latifúndios,
        engenhos e currais.
        Mas… ai de mim!
        Era moça da cidade.
        Escrevia versos e era sofisticada.
        Você teve medo. O medo que todo homem sente
        da mulher letrada.
       Não pressentiu, não adivinhou
       aquela que o esperava
        mesmo antes de nascer.
       Indiferente
        tomaste teu caminho
        por estrada diferente.
        Longo tempo o esperei
        na encruzilhada,
        depois… depois…
        carreguei sozinha
        a pedra do meu destino.
         Hoje, no tarde da vida,
        apenas,
        uma suave e perdida relembrança.


        5-    Ofertas de Aninha
              (aos moços)
          Eu sou aquela mulher
           a quem o tempo
           muito ensinou.
           Ensinou a amar a vida.
           Não desistir da luta.
           Recomeçar na derrota.
           Renunciar a palavras e pensamentos negativos.
           Acreditar nos valores humanos.
           Ser otimista.
            Creio numa força imanente
           que vai ligando a família humana
           numa corrente luminosa
           de fraternidade universal.
          Creio na solidariedade humana.
          Creio na superação dos erros
          e angústias do presente.
          Acredito nos moços.
          Exalto sua confiança,
         generosidade e idealismo.
         Creio nos milagres da ciência
         e na descoberta de uma profilaxia
         futura dos erros e violências
         do presente.
          Aprendi que mais vale lutar
          do que recolher dinheiro fácil.
         Antes acreditar do que duvidar.



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